sexta-feira, 15 de maio de 2009

Educar é sonhar duas vezes


(turma de Contabilidade - 1º Período)

"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda." (Paulo Freire)

Não acredito em fórmulas prontas. Sempre desconfiei que 2 + 2 fosse 4. Ainda hoje não entendo essa matemática. Mas me dá muito prazer acreditar no que podemos ser para os outros quando somos impactados pelo encontro. É assim que acontece a cada aula minha. Encontrar os alunos, partilhar com eles das suas dúvidas, angústias, esperanças, alegrias e decepções, é fantástico. Daí, não acredito muito nas fórmulas de aulas bonitinhas e perfeitinhas. Uma aula é sempre diferente da outra, mesmo quando a disciplina é a mesma. As pessoas são diferentes. E isso é maravilhoso.

Eu sinto as pessoas e os seus olhares e isso me faz diferente todos os dias. Eu sempre acordo dizendo que o dia hoje está como todos os outros dias, cansativo, sofrido e longo, mas ao sair da sala de aula, saio mais morta que viva, mas acreditando que essa humanidade tem jeito sim. Senão pelas turmas inteiras (não se pode ter tudo e todos), ao menos por um, dois, três alunos que me procuram no fim de cada aula para dar depoimentos sobre o que foi assistir aquela aula.

Eu gosto de surpreender. De mexer com eles. De promover o abraço, mesmo quando a disciplina não tem nada a ver. Exponho um a um a um modelo do amor. Sempre digo, não precisamos ser hipócritas para dizer que amamos quem nem conhecemos. No entanto, temos a obrigação (a palavra é feia, mas é necessária) de tolerar o outro com humanidade.

É. Eu não acredito em projetos que nunca saem do papel. As pessoas estão mais preocupadas em mostrar suas idéias que verdadeiramente coloca-las em prática. Eu gosto da prática e da idéia que acontece no calor do abraço. Eu gosto de provocar o outro com o olhar, com o abraço, com o impacto do encontro do olho no olho. Isso move as minhas veias. Isso impulsiona o meu viver.

Não estou falando de um modelo de dinâmica em sala de aula. Nada disso. As dinâmicas são sim uma excelente ferramenta didática em sala de aula. Eu estou falando de vida. De tocar a mão do outro. De dar bom dia, boa tarde, boa noite e esperar que o outro lhe perceba. Eu estou falando de trocar o suor com o outro e de dizer “como vai?” querendo realmente saber e não apenas cumprimentar.

Eu prefiro acreditar que incentivo o surgimento de líderes dentro de cada um, e não burocratas que aprendem as leis e as regrinhas de como fazer isso ou aquilo. Eu gosto de sentar no chão com eles, de colocá-los a olhar um ao outro, abraçar, sentir o calor do outro e só assim dizer o que vim ensinar/aprender com eles.

Esses alunos, mais que simples alunos que vão passar de um semestre ao outro até formarem-se, são parceiros de vida e de emoção. Eu os quero reconhecendo o outro e assim compreendo o sentido real da palavra Responsabilidade Social, além da nossa concepção mercadológica diferenciada. Quero pessoas responsáveis com o mundo, com o próximo e consigo mesma. Quero pessoas que briguem para ver o outro e a si mesma nessa selva que chamamos mercado de trabalho.

Sim, eu acredito na fidelização dos parceiros e colaboradores através da humanização das práticas trabalhistas. Sonhadora? Quem nunca sonhou, atire a primeira pedra. Eu não durmo, enquanto não ver os meus alunos sendo o diferencial nas suas vidas particulares e profissionais.

É essa lágrima ao fim de uma aula, um exercício de humanização, uma oração, uma canção que me faz amar cada vez mais, estar em sala de aula e poder de alguma forma impactar esse mundo ai fora tão cruel.

A Responsabilidade Social começa dentro de cada um e de mais ninguém.



Diracy Vieira
Jornalista e Mestre em Sociologia
Docente da ASPER

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